Apresentação

O plágio é um tópico que recebe cada vez mais atenção na educação básica e superior, estando no coração das preocupações sobre má conduta na ciência. Sendo caracterizado como uma apropriação indevida de ideias, palavras, resultados e/ou processos de um autor sem dar a ele o devido crédito, o plágio tem lugar central em discussões sobre ética na ciência. Sabemos que, na atividade científica, ideias e descobertas têm papel fundamental. O lugar de um autor científico é de destacado reconhecimento no ambiente de pesquisa.

Nesse ambiente, ideias, descobertas, resultados de estudos realizados bem como as interpretações desses resultados fomentam o avanço do conhecimento – que movem o sistema de reconhecimento e recompensas na comunidade acadêmica. Quando esse ciclo de reconhecimento é quebrado com situações de plágio, por exemplo, há uma percepção da comunidade de que houve um desvio ético importante por parte do plagiador.

A forma de lidar com tal desvio varia dependendo da extensão do problema, dos autores envolvidos, da tradição daquela área de pesquisa e de seus sistemas de financiamento. Essa forma, também, depende da cultura de instituições e países. Nos últimos anos, a visibilidade de casos de plágio na comunidade científica vem aumentando, embora não se saiba precisamente se hoje essa prática de fato aumentou ou se estamos “vendo” mais agora do que víamos há algumas décadas, por exemplo, com o acesso crescente à produção científica via Internet.

Em vários países, a exposição dos casos de plágio também é crescente nas universidades, como também são os mecanismos implementados para detectar e prevenir o problema. Em trabalhos finais de graduação e de pós-graduação, a ocorrência dessa prática lança um desafio adicional para educadores e gestores que buscam entender, detectar e prevenir a prática.

Na educação básica... qual é o tamanho do plágio? Essa é uma pergunta distante de uma resposta objetiva, mas alguns trabalhos acadêmicos vêm revelando que ela é frequente e pode ser exacerbada em sistemas educacionais cuja atenção devida a essa prática é muito pequena ou inexistente. Se olharmos para a ocorrência de plágio na educação básica no Brasil, o que podemos estimar? Com certeza que é uma preocupação para todos que têm algum compromisso com a educação, na universidade e na escola. Um documento publicado em 2010 pela Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) nos convida a uma reflexão sobre essa prática na educação brasileira.

Esse documento da OAB descreve que

com a praticidade de copiar e colar textos pelo computador, muitos alunos formatam seus trabalhos escolares e monografias de final de curso, utilizando escritos de outros autores sem os créditos devidos. Apropriam-se de obras de terceiros, cometendo graves ilícitos e, por fim, intitulam-se, falsamente, criadores de obras criadas pelo espírito alheio. Tão nociva prática é observada em todos os níveis do ensino escolar. Na verdade, muitos alunos dos ensino médio e superior não fazem mais pesquisa, apenas copiam e colam textos de outras pessoas (PAIVA, 2010).

É diante desse cenário complexo que este e-book oferece uma perspectiva sobre o plágio no contexto da educação brasileira. O caminho pelo qual conduzimos o leitor passa inicialmente por “conceitos” que compõem noções sobre o que é plágio, seguidos de “recortes” que permitem uma exposição de um pedaço da realidade que temos hoje sobre essa prática na ciência. Esses “recortes” misturam-se a “depoimentos” de professores da educação básica sobre o plágio, seguidos de uma “narrativa” resultante de “Oficinas sobre Plágio” conduzidas com esses e outros professores. Nas Oficinas foram exploradas dimensões éticas, educacionais, culturais e legais sobre essa prática.

As Oficinas foram realizadas em Armação dos Búzios, fruto de uma colaboração entre o Programa de Mestrado Profissional em Educação, Gestão e Difusão em Biociências (MP-EGeD), Instituto de Bioquímica Médica Leopoldo de Meis (IBqM), da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), e a Secretaria Municipal de Educação de Búzios (SEME), via Centro de Pesquisa e Desenvolvimento da Educação (CEPEDE). Participaram das Oficinas 38 professores da educação básica, nas áreas de Química, Biologia, Ciências, Física, Matemática e Língua Portuguesa, que interagiram com especialistas que vêm buscando aprofundar a compreensão sobre o plágio e suas dimensões.

Ao final da narrativa apresentada, compartilhamos inquietações, sentimentos, reflexões e percepções sobre a prática de plagiar, expressas na forma de poesia.

Desejamos aos leitores que o percurso por este livro digital leve a uma maior compreensão sobre essa temática e a uma ampliação de iniciativas educacionais para explorar questões que este material levanta no conjunto de sua contribuição!

Rosemeire Amaral & Sonia Vasconcelos