Poesias

Plágio em Poesia

Esta seção reúne poemas inéditos que têm algo a dizer sobre o plágio

Nem todos os autores participaram das Oficinas. O conjunto de “poetas” inclui professores de diferentes áreas e instituições de ensino e pesquisa, como UFRJ, PUCRS, CBPF, Colégio Pedro II, University of Texas Southwestern e St. John’s University. Muitos desses autores vêm dedicando particular atenção ao plágio em suas práticas - seja como pesquisadores, seja como educadores. Em comum, todos buscam entender as raízes da cópia na nossa cultura escolar e universitária. Ao falarem do plágio em poesia, os autores falam de sua essência, de raízes fincadas em nossa cultura, em grandes descobertas científicas, e na natureza humana, que delineiam motivações para copiar.

Enfocam, também, em práticas escolares e acadêmicas, cuja relação com o plágio não sabemos mensurar...

Poesias

  • VOZES MINHAS
    Prestes a achar sentido no que eu mesma tinha inventado,
    Depois de preenchidas tantas horas
    de um vazio ainda nem esgotado,
    Me vi bem ali com elas tão reviradas naquelas linhas,
    Que de tão reviradas quase me apagaram,
    Mas nem com o tanto que mudaram,
    Fizeram daquelas linhas vozes menos minhas.

    Rosemeire Amaral & Sonia Vasconcelos

  • GENTE LESA GERA GENTE LESA “Gentileza gera gentileza”.
    Escreveu o Profeta.
    Mas, cuidado:
    Gente lesa gera gente lesa!
    Copiar e colar também!

    Edson H. Watanabe

  • 1/2 SONETO
    Constelações e explosões em pensamento
    Olhar pro céu e ter sonhos intrigantes
    Tudo é ação, reação e movimento
    “Ver mais longe é estar no ombro de gigantes”

    Mas copiar sem pensar por um instante
    É reduzir uma mente inquietante
    A mera máquina de ideias replicante
    De livre-arbítrio – insignificante

    Renan Moritz

  • Essa frase nao é minha
    (se essa rua fosse minha)

    Essa frase, essa frase não é minha.
    E por isso com cautela vou usar.
    Autor, data, páginas irei citar
    Pois não tem graça nenhuma plagiar.
    Se eu usei, se eu usei a sua frase
    É porque a sua ideia me cai bem.
    Mas direi a todos que agora leem
    De onde foi, de onde foi que a retirei.
    Obrigado, caro autor, da bela frase.
    Nunca mais eu irei te esquecer.
    Todos vão saber o que tu escreveste
    E citar-te é forma de agradecer.

    Wagner Teixeira Dias

  • Perdidos no Plágio
    Cena 1:
    Ideias tão bem escritas,
    Fluidas, redondas, sonoras.
    Uma pena se mudar uma vírgula...
    Cena 2:
    Uma cópia ou duas, aqui e ali,
    Réplica, sinônimo, inversão.
    Ninguém vai perceber...
    Cena 3:
    A medida (in)certa para
    reescrever, mudar, manter.
    Afinal, que diabos é paráfrase?

    Rosemary Sadami Arai Shinkai

  • Plagiase
    Pontes de hidrogênio, duplas hélices, interações hidrofóbicas
    Forças de Van der Waals, moléculas apolares,
    ligações fortes ou fracas?
    Eletronegatividade
    Bases nitrogenadas, pareadas - ensinar de verdade.

    Hastes verticais, fitas em oposição,
    informações codificadas e únicas
    Purina, pirimidina... Insolúveis ou tautoméricas?
    Neutralidade
    Codificar, decodificar informações biológicas -
    ensinar de verdade e desenvolver a curiosidade.

    Cópias, polimerização, auto-duplicação, replicações idênticas
    Bilhões delas, núcleo da célula,
    sequências simples ou sintéticas?
    Probabilidade

    Sequenciar, transcrever - ensinar de verdade, desenvolver a curiosidade e a criatividade.
    Outros DNAs, hélices entrelaçadas, abordagens terapêuticas
    Fitas soltas, tripla hélice, novas configurações genéticas?
    Imprevisibilidade
    Entender, arriscar - ensinar de verdade, desenvolver a curiosidade, a criatividade e a eticidade. E cabe?

    Sonia Vasconcelos

  • Provocação para o plágio
    O plágio apavora
    Comparece e desafora
    Desaparece e incomoda

    O plágio cabe entre duas palavras
    O meu e o teu. E alguém sussurrou:
    Mas as palavras não têm dono
    O conhecimento é nosso.

    Como pode a repetição fazer o ladrão
    Se aprender muitas das vezes é refazer?
    Que confusão entre o vício e a virtude.

    Palavras trocadas, identidades roubadas
    E na sombra das ideias compartilhadas
    A reminiscência apresenta-se como culpada
    Que terror! A escrita ameaçada.

    Aquilo que é nem sempre foi
    A convenção é que determinou
    Os tempos mudaram e as regras ficaram.

    Pensar e agir igual é o padrão
    Mas não haveria aqui também repetição?
    Trata-se da propriedade das coisas
    Não de quem é, mas por que é.
    O plágio apavora, mas a escrita liberta.
    A escrita liberta o plágio apavora.

    Marcelo Krokoscz

  • Só o pensamento. Esse tem dono.
    Ninguém é de ninguém
    Nenhuma palavra
    Nem frase.
    Ninguém é de ninguém.
    Nenhuma ideia.
    Nenhum produto.
    Ninguém é de ninguém.
    Apenas o pensamento.
    O meu. O seu.

    Sonia Vasconcelos

  • Sem título
    Citar sem referência
    Não é simples negligência.
    Você escuta? É má conduta.

    Elizabeth Heitman

  • Hai-Kai
    Era sábio douto e letrado
    Até o dia que será lembrado
    Pois me tinha pla-gi-a-do

    Renan Moritz

  • Um Ode a Tom Lehrer
    Me pediram um poema.
    Refleti sobre o tema:
    O plágio científico,
    Um exemplo específico
    De má vontade e de má conduta.

    Tentei escrever
    Mas pensava em Tom Lehrer.
    Tanto mais que não quis rir,
    Não podia conseguir.
    Só pensei em “ Lobachevsky” e seu lema.1

    Tom Lehrer não é lírico.
    Seu verso é satírico.
    Assim, ensina bem
    Que as ideias de alguém
    São valiosas e o plágio é roubo.

    Pra ensinar a ética,
    E evitar polêmica,
    Pocure algo cômico.
    Será mais econômico.
    Seja claro, sem retórica.

    Lobachevski, by Tom Lehrer, Songs by Tom Lehrer, Trans-Radio Recordings, TR 740, Track A6, 1953.

    Elizabeth Heitman

  • TODOS FALAM DELA
    Da ética falam os Parâmetros Curriculares Nacionais
    Da ética falariam os Projetos Políticos Pedagógicos.
    Se falam não ouço falar.

    Recarregam páginas retóricas sem a ela dar lugar.
    Sem ela vamos com a essência do plágio nos preocupar?
    Sem falar desses essenciais
    Quebram-se pedras fundamentais.

    Rosemeire Amaral

  • DEBATE POSTO
    Para o plágio há argumentos legais
    Defesas e ritos institucionais
    Há o meu, o seu, o de alguém
    Mas às vezes não é de ninguém

      Na ciência o argumento ético deve prevalecer 
    Mas este debate posto precisa crescer
    “Quem é o autor” é de Foucault e nossa também
    A resposta ética de onde vem?

    Sonia Vasconcelos

  • TODO MUNDO COPIAVA?
    Nos ombros de Drummond
    João copiava de Teresa que copiava de Raimundo
    que copiava de Maria que copiava de Joaquim
    que copiava de Lili
    que não copiava de ninguém.

    João foi para outro estado, Teresa não sabia pra que lado,
    Raimundo continuou copiando de Maria,
    mas Maria não tinha mais Joaquim,
    Joaquim nunca mais viu Lili, que continuou sendo Lili -
    que não copiava de ninguém,
    que seguiu entendendo a história – de longe,
    mais do que ninguém.

    Sonia Vasconcelos

  • REPETIÇÕES
    Tacanhas rotinas embalam a repetição
    Piscadas, bocejos, acenos, passadas
    E assim também
    Com letras, palavras, trovas e baladas

      Neste mundo de humanidades partilhadas
    O original é nada mais
    Um misturado novo
    Repetições embaralhadas

    Renan Alvarenga

  • PLÁGIO, O BEIJO DA MORTE
    As letras escorrem aos dedos e cântaros
    Sonho que forjo seu soneto em pergaminhos
    Bebo no seu copo o tanino de noites antigas
    Para desvelar a cor da sua paixão
    Quero o seu cândido olhar, seus verões e primaveras
    Quero o seu altar, o cálice e o pão
    Para que eu possa girar na odisseia dos desvalidos
    E me transformar nas suas nuvens de algodão
    Eu abraço a madrugada sem viola e serenata
    Sou o seu sorriso e as suas lágrimas
    Sou o dissabor das suas mazelas
    Sou a sua voz entorpecida pelo samba-canção
    Eu vejo a escuridão alumiando a lua azul
    Sequestrei suas dores de amores
    Molhei minhas noites com o seu suor
    Degusto o beijo da morte sem rogar perdão
    Suas palavras são todas minhas
    Quero esquecer quem eu nunca serei
    Minha boca escorre pelas calhas da varanda
    Meu corpo apodrece nos sete palmos de chão
    Sou um arruaceiro perdido em avenidas
    Sou um plagiador de emoções
    O mar de sangue sopra as caravelas
    O mastro e o tombadilho não sabem aonde vão
    A máquina travou meu copy e paste
    Não me delete, my love!
    Não me esquece, menina!
    Eu sou uma cópia vadia, o plágio daquela velha canção

    Ricardo Bacelar Paiva

  • COPIANDO SEM PARAR...
    Drenagem contínua pelos espaços cibernéticos
    Drenagem de tudo que vejo, copio, preciso
    Drenagem sem trégua, sem tempo, sem fôlego
    Drenagem das palavras pensamentos
    Drenando sempre e em frente, sem freio
    Drenando muito tudo, tudo meu
    Drenando não penso, não paro, não perco
    Mas me perco.
    Drenamos cérebros tantos que confundimos até
    Drenamos ideias - são tantas são boas
    Drenagens. São plágios?

    Sonia Vasconcelos & Rosemeire Amaral

  • PLÁGIO
    Às vezes disfarçado
    Noutros escrachado
    Não importa o motivo
    Se com um texto estou perdido
    Talvez não tenha entendido – não fui esclarecido.

    Christiane Coelho Santos

  • REPROVADA
    Havia uma aluna de Granada
    Que como estudante era muita danada
    Por preguiça resolveu
    Apresentar como seu
    Ideias e termos alheios....
    E terminou sendo bem reprovada.

    Fredric M. Litto

  • CANTO CONTRA CÓPIA
    Não sei escrever
    O que fazer?
    Não li
    Não leio
    Devia ler

    Não sei escrever
    O que fazer?
    Tenho tarefas
    Tenho prazos
    Tenho metas

    Não sei escrever
    O que fazer?
    É tanta coisa a fazer
    É tudo tão rápido
    É tão pouco tempo

    Não sei escrever
    O que fazer?
    Tem texto bom por aí
    Tem, está logo ali
    E tem essas teclas aqui

    Não sei escrever
    O que fazer?!
    Escrever na folha branca
    Escrever na folha franca
    Escrever!
    E libertar o pensar

    Andre L. Pinto

  • RODAS DE CONVERSA?
    Aprendemos a conversa cedo,
    Já depois de alfabetizar
    Vou dizendo o que ela disse,
    Cito mesmo sem saber citar

    Seguindo linhas e palavras - com medo
    Trocando as vozes e tentando me achar
    Essa falta de mim é esquisitice
    Mas o espaço do autor devo me dar?

    Nessa roda de conversa me enveredo
    Buscando a minha hora de falar,
    Se me deixam... arrisco me apresentar
    Sendo eu mesmo – nem preciso disfarçar.

    Sonia Vasconcelos & Rosemeire Amaral

  • MUNDO DAS IDEIAS
    Talvez Galileu não tenha sempre inventado...
    Talvez Da Vinci não tenha sempre criado...
    Talvez Shakespeare tenha copiado...
    Talvez Mendel tenha errado...
    Talvez Fleming não tenha tudo contado...
    Talvez Kekulé não tenha sonhado...
    Mas viva o telescópio, a Monalisa, Macbeth,
    a genética, a penicilina, o benzeno...
    Viva a vida dada ao mundo das ideias?

    Sonia Vasconcelos

  • “PRETENSO POLÍMATA”
    Buscando pelo saber
    Não parava de ler
    Queria tudo conhecer

    Havia tanto por ter
    Detalhes pra entender
    Problemas a resolver...

      Só não pôde prever que
    Em seu pretenso querer
    O próprio ser iria perder

     Não se pode mais ver
    O que é o outro
    E quem é você. 

    Marlon Machado

  • SEM CRIATIVIDADE
    Reproduzi tudo
    Até onde já não sei
    Procurei por meus pensamentos,
    mas ao ver os seus me encantei
    A vida inteira imitei
    Ao buscar inspiração
    Era um mar em que nunca naveguei
    Era ela - a criatividade – me desesperei!
    Copiando, colando e seguindo a canção.

    Rosemeire Amaral

  • NINGUÉM APRENDE SOZINHO
    Cada um soma pensamento
    com ideia boa do outro,
    que de tão parecida com a gente,
    dá até vontade de levar.
    Dizer que é nossa,
    assinar. 
    Mas quem sabe,
    no caminho,
    o dono queira de volta.
    Uma confusão danada
    bem difícil de consertar.
    Por isso, amigo,
    Procura caminho novo,
    faz seu trabalho,
    pede ajuda,
    vai no Google pesquisar.
    Só que mostra bem
    que aprendeu.
    Escreve aquilo que é seu.

    Dulce Helena Cruz de Moura

  • NÃO APRENDI A PLAGIAR Não aprendi a plagiar
    Não sei escrever se tiver que copiar
    Palavras me faltam para suas ideias disfarçar
    Levaria muito tempo para elaborar

    Não aprendi a plagiar 
    Levaria muito tempo pra me acostumar 
    Tantas cópias, tanto pra imitar
    Me enfraquece tantas máscaras ter que usar

    Não aprendi a plagiar
    Descobrir maneiras de enganar
    O autor, o leitor? Isso vai me torturar

    Não aprendi a plagiar
    As palavras surgem, o texto flui
    Expressa, discorre, me deixa falar

    Sonia Vasconcelos & Christiane C. Santo

  • ENTRE COLCHAS E PLÁGIOS
    Vejo-os tecendo essa colcha
    Com pedaços achados - doados?
    Aquela colcha de retalhos
    Ainda com costura frouxa.
    Tecidos embolados nessa trouxa.
    Vejo-os tecendo essa colcha
    Com pedaços achados - doados?
    Algodão, seda, linho,
    Tecidos misturados.
    Vejo-os tecendo essa colcha
    Com pedaços achados - doados?
    Recortados.
    Vejo-os tecendo essa colcha
    Com pedaços achados - doados?
    Remendados. Plagiados?

    Sonia Vasconcelos

  • PROSA IMPECÁVEL?
    Enquanto lia o seu trabalho,
    Fiquei encantado - inegável.
    Mas, enquanto lia e
    Processava sua prosa impecável,
    Minha mente me dizia:
    Era plágio incontestável.

    Miguel Roig

  • O NASCER DO CONHECIMENTO
    Vem depois do pensamento
    Ele sempre será próprio
    Da cabeça de quem pensou
    Ele pode se espalhar
    Ele deve se expandir
    Mas ele sempre será
    De quem conseguiu parir

    Pra dar luz ao pensamento
    É necessário confiança
    Quem se esforça não se cansa
    Se vicia nessa dança 

    Quem quer ser reconhecido
    Precisa ser seu próprio amigo
    Confiar na luz que vem
     Do nosso próprio umbigo
    Cozinhamos os miolos
    Pra produzir o segredo
    A ideia sai nos poros
    Brilhando sem ter medo
    Alimento retiramos
    Do pensamento alheio
    E então nós recheamos
    A cabeça sem receio

    Fernanda de Moura Borges

  • PLÁGIO DE RAIZ – NOS OMBROS DE BUARQUE
    Vazio que destrói
    Meu texto não saía em português
    A escrita como algoz
    Copiava frases - muito mais que três
    Eu copiava aos montões
    Aos professores tinha que pedir perdões
    Copiava da Internet,
    Salvava em doc
    E no googledocs compartilhava com vocês

    Agora eu já não sei
    Parece plágio mas nem sei o que fiz
    E nessa insensatez
    Sou motivado a pensar que há uma raiz
    Ela vem talvez do jeito de se ensinar
    É tanta forma de copiar e colar
    Seja no cel ou no quadro de giz

    Não não acho não
    Não penso que isso seja um segredo
    A cópia é comum sim, parece que escrever dá medo
    Parece um turbilhão
    Eu caio nele e fico perdido
    Vem, me dê a mão,
    Me tira dele, me ensinando cedo
    Agora já está tarde, como faço pra escrever sem medo?

    Agora eu me dei mal
    Todos os dedos apontam pra mim
    Achei que era normal
    Agora sei que não funciona assim
    Plagiei e existe sim um preço a pagar
    E agora vivo a me justificar
    Será que existe redenção pra mim?

    Sonia Vasconcelos & Marlon Machado